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O que é luto antecipatório?

Durante a Segunda Guerra Mundial, muitas esposas de soldados que tinham partido para lutar na guerra, passavam a apresentar quadro depressivo, tristeza profunda e enlutamento pela separação física do marido, gatilhos que eram acionados por um sentimento de que talvez eles não voltassem.

 A partir daí, o psiquiatra Erich Lindemann (The Symptomatology and Management of Acute Grief), passou a analisar esse fenômeno, que pode ocorrer diante da ameaça iminente da morte de uma pessoa querida, quando o paciente e a família começam a sentir de forma mais consciente a realidade da perda.

O luto antecipatório como diz o nome, ocorre antes da perda real, mas apresenta as mesmas características de um luto normal. Alguns estudiosos como Worden (1998), argumentam que, ter consciência de que a pessoa irá morrer, estar diante da inevitabilidade da morte, faz com que todo o processo de dor, inicie antes da própria perda.

Além disso, nessa fase, pode ocorrer o estado de negação, quando mesmo diante do diagnóstico de uma doença terminal, o indivíduo continua  nutrindo esperança e expectativa de que o quadro vai se reverter.

 Estar diante de uma pessoa que já não executa as atividades de antes e que está sofrendo, desperta nas pessoas que a amam, um sentimento de impotência e às vezes até culpa, por não poder fazer nada que alivie seu sofrimento. Como consequência dessa oscilação de sentimentos, pode se instalar um quadro de ansiedade.

O luto antecipatório é sem dúvida, uma fase muito difícil, de um lado você precisa estar forte para acolher de forma muito amorosa, atenciosa e paciente o indivíduo que sofre e ao mesmo tempo, você se vê diante do medo da perda.

Como identificar um luto antecipatório?

 

Sentimentos de tristeza recorrente, desânimo, ansiedade, medo, angústia, exaustão, negação e culpa, são muito frequentes nesses casos. Aliado a esses sentimentos, o indivíduo pode ficar mais isolado, não querer cumprir suas atividades diárias, não se preocupar com sua própria saúde, não se alimentar bem ou se alimentar em excesso.

Nas palavras de Massocatto e Codinhoto: “O cuidador tende a ver seu ente querido se despersonalizando e perdendo a intimidade com a família, estas são situações dolorosas para o cuidador, ao ver diariamente as perdas do doente, e também o sofrimento antecipado com a sua morte.” (Massocatto e Codinhoto, 2020).

A proximidade da morte pode fazer surgir conflitos não resolvidos ao longo da vida, pode deixar os familiares mais estressados, principalmente quando começarem a cobrar uns dos outros, diferentes tipos de assistência, questionando os que não estão presentes o tempo todo ou os que poderiam ajudar mais e não ajudam.

É um momento delicado e tenso, porque muitas vezes, cada membro da família vai vivenciar essa fase de uma forma diferente e a partir do contexto de vida que teve com o paciente e os comportamentos individuais tendem a deixar uns mais irritadiços, podendo desencadear mudanças na atmosfera familiar.

De que forma podemos ajudar alguém que está sofrendo um luto antecipatório?

 

Todos nós sabemos que a morte é a única certeza que temos na vida, mas perceber ela se aproximar de alguém que amamos, nos faz de repente tomar consciência da finitude da vida e esse processo assusta. Presenciar alguém que amamos em sofrimento e às vezes em processo de degeneração é muito doloroso. Muitas vezes nos vemos divagar sobre como aquela pessoa era tão cheia de vida e essas lembranças do passado, enchem nosso peito de uma angústia ainda maior, pela sensação de impotência que nos invade.

Por isso, diante do processo de luto antecipatório, a família e os cuidadores devem ter assistência tanto quanto o paciente, afinal de contas, o sofrimento psíquico abrange a todos.

Na medida do possível, não deixar uma única pessoa responsável pelo doente, mas haver um rodízio onde todos possam ter um tempo de “se desligar”, ainda que apenas um pouco, do ambiente onde o paciente está;

– Procurar manter conversas positivas entre si, sem cobranças mútuas entre os familiares;

– Entender que cada um tem uma forma de encarar e vivenciar sua dor, respeitando a vivência de cada um;

– Estar sempre demonstrando atenção e preocupação com os cuidadores, para que eles se sintam acolhidos, evitando frases do tipo: “se fosse eu agiria assim”, “se ele tivesse comigo eu faria isso”. Com certeza, nesse momento, cada um está agindo da melhor forma possível;

– Caso se perceba que algum membro da família está mais isolado e sem saber lidar com o momento, indicar um atendimento psicológico, para ajudar a vivenciar todo o processo;

– Entender que é um momento difícil para todos e levantar conflitos nesse momento, só irá dificultar ainda mais todo o processo.

Falar da morte é um tabu, mas quando nos vemos próximos a ela, é preciso quebrar as correntes desse silêncio e simplesmente acolher afetuosamente todos que estão envolvidos nesse processo, na certeza de que, um colo, uma palavra amiga, um abraço afetuoso, é a melhor forma de fortalecer todos que estão sofrendo.

Referências:

Massocatto, F. I., Codinhoto, E. (2020). Luto antecipatório: Cuidados psicológicos com os familiares diante de morte anunciada.Revista Farol. Vol. 11, Nº 11.

Worden, J.W. (1998). Terapia do luto: Um manual para o profissional da saúde mental. Porto Alegre: Artes Médicas. 

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